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FRACASSADOS PELO ÊXITO

 

Ah, esta quinzena traz consigo um novo tema. Que prazer reviver esse momento aqui com você! Imagine só, ouvi essa expressão recentemente e parei para dar ouvidos novamente, refletindo sobre o que exatamente estavam me comunicando. Um tanto confuso, pedi uma breve explicação, e então, como se fosse uma represa rompendo, tudo veio de uma vez só. Parece que entendi toda a história, o que resultou em muitas risadas. Adoro quando me deparo com ideias novas e até mesmo contraditórias. Elas me fazem pensar e me levam a lugares que nem mesmo sei ao certo onde ficam. Mas vamos lá, deixe-me explicar; mas antes, permita-me fazer uma pergunta.

Por que certas pessoas bem-sucedidas em suas trajetórias profissionais acabam tomando decisões que frequentemente as conduzem ao fracasso?

A resposta está na tendência delas em não aproveitar plenamente os benefícios que o sucesso pode proporcionar. Um sentimento de culpa surge porque pessoas próximas a elas não conseguiram alcançar o mesmo patamar de sucesso; amigos e familiares foram deixados para trás, no início ou ao longo do caminho.

É essencial não deixar que o medo do sucesso tome conta e, uma vez conquistado, é fundamental enfrentar os desafios que ele traz consigo. Algumas pessoas fogem de sua verdadeira vocação, ignorando sinais cruciais em suas vidas que as convidam a serem mais autênticas. Esses sinais podem surgir em diversas situações, como durante doenças, acidentes, experiências amorosas ou ao contemplar obras de arte. Cada indivíduo sabe quando foi tocado por essas experiências, questionado e instigado a se tornar mais autêntico.

Antes de abordar o medo e a resistência associados ao convite para a profundidade e à realização pessoal através da superação do eu, é vital reconhecer os diferentes medos que precedem o medo da transcendência. Ou seja, o receio diante do êxito

No ano de 1915, enquanto tratava pacientes com neuroses, Freud notou um fenômeno inesperado: o sucesso profissional desencadeava neles uma considerável ansiedade. Essa observação deu origem a uma ideia que, junto à ansiedade, gerava um sentimento de culpa, resultando em um estado melancólico que poderia perdurar por vários anos. Essas pessoas eram identificadas como aquelas que sofriam com o sucesso, temendo não serem capazes de mantê-lo para sempre em todos os aspectos.

Quando o sucesso permanece no plano dos sonhos e desejos, a neurose do sucesso nem sempre se manifesta. No entanto, assim que o sucesso se torna realidade, como após uma promoção, por exemplo, é possível que aqueles beneficiados não o suportem. É provável que você conheça pessoas com esse tipo de problema – que, ao obterem uma promoção, ao invés de se alegrarem, adoeçam.

Freud argumentava que as pessoas adoecem quando um de seus sonhos mais profundos e duradouros se realiza. Não é incomum que o ego tolere um sonho como algo inofensivo, desde que sua concretização permaneça apenas como uma projeção, parecendo nunca se realizar. É como quando sonhamos em ter um parceiro, e quando finalmente o encontramos, consideramos o sonho improvável e o ignoramos.

Essa ponderação é fascinante porque há muitas pessoas entre nós que sonham e idealizam o sucesso e a plenitude. No entanto, por que esses sonhos frequentemente não se realizam?

Existem indivíduos de grande inteligência, tanto homens quanto mulheres, que parecem se organizar meticulosamente, apenas para falhar em seus empreendimentos, mesmo possuindo plenas capacidades para alcançá-los. Por quê será? Essa dinâmica é conhecida como “neurose do fracasso”. Quando estamos prestes a triunfar, quando nossos sonhos estão à beira de se concretizarem, de alguma forma, inconscientemente sabotamos nossos próprios esforços. Esse fenômeno pode ser observado em algumas pessoas como um processo doloroso e perplexo.

Freud ilustra essa ideia com o caso de um professor universitário que por anos aspirou à cátedra de seu mentor. Contudo, quando finalmente essa oportunidade se concretizou, devido à aposentadoria do mentor, o professor mergulhou em uma profunda depressão que só foi superada após longo período.

Um psicólogo como Fenichel pode interpretar o medo do sucesso como resultado do sentimento de indignidade. É importante, portanto, analisarmos nossa própria relação com o sucesso, compreendendo nossos desejos e temores em relação a ele. Talvez, dentro desse medo do sucesso, esteja embutido um sentimento de indignidade, decorrente de críticas e julgamentos que sofremos no passado.

Quando uma criança é repetidamente desvalorizada, seja sendo dito que ela nunca alcançará nada, que não é inteligente ou que não sabe fazer algo, ela internaliza essas mensagens. E se eventualmente alcança o sucesso, inconscientemente pode sentir que ele não é merecido.

Como cita Fenichel: “O sucesso pode ser percebido como uma conquista injusta, que intensifica sentimentos de inferioridade e culpa. Ele não só pode resultar em punição imediata, mas também alimentar uma ambição crescente, criando o medo de futuros fracassos e sua consequente punição.”

Para Karen Horner, o medo do sucesso pode derivar do receio de despertar inveja nos outros, levando à perda de seu afeto. Alguns indivíduos temem o sucesso porque não desejam despertar ciúmes alheios, uma preocupação profundamente arraigada. Os antigos gregos expressavam isso de forma poética: “Os deuses invejam o sucesso dos homens”, pois acreditavam que o sucesso humano ameaçava as prerrogativas divinas.

Heródoto observou que muitas culturas antigas acreditavam que o excesso de sucesso trazia consigo um perigo sobrenatural, enxergando a mão da inveja divina por trás dos acontecimentos históricos. Segundo essa visão, indivíduos muito ambiciosos atraíam uma série de infortúnios. A segurança, portanto, residia na obscuridade. O provérbio “Para viver feliz, viva escondido” encapsula essa ideia de que a felicidade está associada ao anonimato ou à falta de ambição.

O medo da diferença é um elemento crucial. Antes de alcançarmos um estado de harmonia e aceitação, precisamos confrontar e vivenciar nossos desejos e temores. Somente após experimentá-los podemos transcendê-los. O complexo envolve não apenas o temor do sucesso ou a culpa associada a ele, mas também o receio de ser diferente e consequentemente rejeitado pelos outros.

Muitos indivíduos contemporâneos optam por uma espécie de auto-castração, renunciando ao seu potencial, originalidade e independência com medo da exclusão e do ostracismo. Existem aqueles que desempenham o papel que lhes é atribuído, porém, sua verdadeira essência não está presente. Essa desconexão pode gerar um profundo desconforto, até mesmo resultando em doença.

Certa vez, um discípulo de São Tomás de Aquino indagou: “Se minha consciência me orienta para uma ação e o Papa me instrui a realizar outra, a quem devo obedecer?”

A resposta de Santo Tomás de Aquino pode surpreender alguns. Ele não simplesmente instruiu o discípulo a obedecer ao Papa, mas a seguir sua própria consciência, buscando constantemente esclarecê-la. É crucial não separar as duas partes da orientação: “Obedeça à sua própria consciência” e simultaneamente “procure esclarecê-la”.

Podemos nos enganar, mas não podemos nos iludir indefinidamente. Reconhecer nossa capacidade de equívoco é essencial, enquanto simultaneamente buscamos clareza em nosso caminho, mantendo esses dois aspectos em equilíbrio. Às vezes, isso requer coragem para nos diferenciarmos de nosso ambiente e das figuras que consideramos autoridades. Caso contrário, corremos o risco de nos perder na negação do que nos torna autênticos.

Um verdadeiro mestre ou líder não nos priva de nossa liberdade. Em vez disso, eles nos oferecem ferramentas para reflexão e uma série de práticas para que possamos conquistar nossa própria liberdade. Suas palavras não substituem as nossas, mas as enriquecem. Seus desejos não suplantam os nossos. Não somos marionetes, soldados ou seguidores cegos de seus ensinamentos, mas nos tornamos indivíduos livres, enriquecidos pela sabedoria e pela experiência que eles compartilham conosco.

A pressão social exerce uma influência tão intensa que muitas pessoas tentam resolver seus problemas pessoais adaptando-se cegamente às normas e valores do grupo. Distanciadas de sua própria consciência, elas adotam a conformidade como único critério para julgar a aceitabilidade de atitudes, tanto individuais quanto coletivas.

Um grupo saudável é capaz de abrigar indivíduos diversos, com pensamentos e visões de mundo distintos, que se enriquecem mutuamente por suas diferenças. Pois, quando todos compartilham o mesmo pensamento e se fecham na mesma concha, a capacidade de pensamento individual se perde… A relação deixa de ser uma troca de ideias e se transforma em submissão a uma doutrina comum. É como se a água da chuva só conseguisse gerar flores de uma única cor quando cai em um campo.

É interessante observar que quando um ensinamento é flexível o suficiente para florescer em diferentes formas, ele encontra aplicação em diversos contextos e ambientes. Isso indica que estamos em um ambiente que promove nossa evolução em vez de nos reprimir ou bloquear.

O temor às mudanças é um fenômeno comum, mesmo quando essas mudanças podem levar a uma vida melhor e mais feliz. Para algumas pessoas, o abandono de velhos hábitos e a perda do familiar criam um estado insuportável de insegurança. A sensação de segurança muitas vezes está associada ao previsível, mesmo que isso implique infelicidade e sofrimento.

Esse desejo por segurança é especialmente evidente em indivíduos psicóticos, cuja infância pode ter sido marcada pela ideia de que qualquer mudança representa uma ameaça. A separação da mãe ou do ambiente familiar foi apresentada a eles como algo equivalente à morte e ao caos, gerando um medo arraigado em relação a qualquer alteração.

É importante notar que um excesso de segurança pode impedir o desenvolvimento pessoal, mas também é verdade que uma liberdade excessiva pode resultar em grande angústia. Quando uma criança não conhece seus próprios limites, o medo de não se enquadrar nos padrões estabelecidos pode gerar o medo de se conhecer verdadeiramente.

Por fim e resumindo bem minha fala por aqui, lidar com o fracasso requer discernimento para reconhecê-lo, coragem para enfrentá-lo e sabedoria para aprender com ele.

Roberto Marinho

Publicitário e Psicanalista

Contato: Robertomarinho28@gmail.com

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